quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Grandes Esperanças – Charles Dickens





“Em suma, fui covarde demais para fazer o que eu sabia ser certo, tal como fora covarde demais para evitar fazer o que sabia ser errado.”

Essa foi a segunda obra que eu li desse autor por quem eu me interessei muito desde que descobri que se tratava de um dos autores preferidos do C. S. Lewis – a primeira foi Um Conto de duas Cidades. Estava sentindo falta de ler um clássico, umas dessas obras grandiosas que poucos escritores conseguem produzir. É interessante esse traço que eu notei em grandes obras como Os Miseráveis, Guerra e Paz, Um Conto de duas Cidades, Germinal e agora em Grandes Esperanças e que, deve até ter um nome técnico, mas que para mim é a capacidade de contar uma grande e profunda história a partir de acontecimentos simples e cotidianos.

Talvez por isso é que a gente acabe aprendendo tanto sobre a natureza humana com essas obras, e talvez, por isso é que elas se tornem clássicos. De qualquer forma, apesar de não ser uma história cheia de grandes acontecimentos e de emoções fortes, o que acaba tornando a leitura um pouco mais morosa, a verdade é que são histórias que irão influenciar gerações para sempre.

Vamos a um breve relato da história. Pipi é um garoto órfão de pai e mãe, que é criado por sua irmã mais velha, uma pessoa dura, rancorosa e um tanto agressiva, e por Joe, o esposo de sua irmã, um ferreiro que apesar de ser um tanto rústico é uma pessoa amorosa, e com quem o menino tem muita afinidade e uma amizade profunda. A história começa quando Pipi está visitando o túmulo de seus pais, em um charco distante de sua vila, e é surpreendido por um forçado que havia fugido das presigangas que exige que o garoto lhe traga comida na manhã seguinte, jurando que, caso não o faça, seu companheiro irá matá-lo. O garoto sofre durante toda a noite com o dilema moral de furtar comida da sua própria casa para preservar sua própria vida e, apesar de todo o medo de levar uma surra de sua irmã caso fosse descoberto, ele acaba alimentando o fugitivo sem que ninguém descubra.

“Foi para mim um dia memorável, pois causou grandes mudanças em mim. Mas é assim com todas as vidas. Imagine que um determinado dia fosse eliminado de sua vida, e pense em todas as consequências que isso teria sobre o resto dela. Para e pensa, tu que me lês, por um momento, na longa cadeia de ferro ou ouro, de espinhos ou flores, que jamais teria te cingido, não fosse a formação do primeiro elo, num dia memorável.”

Após essa primeira cena que parece não ter qualquer ligação com o resto da história (isso também acontece em Um Conto de Duas Cidades) a história de Pipi muda de foco. Sua casa é sempre frequentada por três parentes insuportáveis que tratam mal tanto o garoto como Joe, mas que são adorados pela irmã. Em certa ocasião, um desses parentes que é comerciante na vila, comunica a irmã de Pipi que a Sra. Havisham, uma rica e excêntrica mulher que vive enclausurada em sua mansão, deseja a companhia de um garoto. O garoto então começa a frequentar a casa da rica mulher semanalmente, onde, além de fazer companhia para a velha que não sai de sua casa desde o dia de seu casamento que não se realizou, cujos relógios estão parados na hora em que a cerimonia ocorreria, que a mesa da festa ainda está posta e que ainda festa o vestido de casamento, conhece e se apaixona por sua filha adotiva, Estella.
Mas Estela foi ensinada a não amar, a zombar dos homens, a ser orgulhosa de sua beleza e seu destino é vingar o mal que um dia se fez a sua mãe adotiva e, percebendo que o menino se apaixonou por ela, passa a esnobá-lo, sempre apontado sua grosseria, sua origem humilde e sua falta de elegância e conhecimento.

“É impossível saber até onde a influência de um homem simpático, honesto, e cumpridor de seus deveres se estende no mundo; mas é perfeitamente possível saber até que ponto essa influência tocou a nós.”

A partir dai, depois de viver um tempo em meio à riqueza e apaixonado por Estella, Pipi começa a desprezar o mundo em que vive, e até mesmo Joe, seu grande e fiel amigo e protetor, pois via em tudo algo que desagradaria Estella. Pipi então se torna insuportável e tudo piora quando sua sorte parece mudar.
Um dia ele é visitado pelo Sr. Jaggers, advogada da Sra. Havisham que vem lhe fazer uma proposta. Pipi havia se tornado herdeiro de uma grande fortuna, mas, para fazer jus a ela, ele deveria mudar-se para Londres, aonde iria se preparar para se tornar um cavalheiro. Lá ele iria estudar e frequentar os melhores lugares, se tornar refinado. Mas havia algumas condições, uma delas é de que ele jamais deveria questionar acerca de quem era seu bem feitor e a outra é de que ele deveria sempre manter o nome de Pipi.

“não há verniz que esconda os veios da madeira, e quanto mais se enverniza a madeiras, mais os veios se manifestam”

Era tudo que ele queria e, crendo que sua bem feitora era a Sra. Havisham e, por vários outros motivos, crendo que ela tinha destinado a ele a bela Estella, Pipi abandona sua família (dua irmã havia adoecido profundamente, vivendo um tipo de coma e sua mais antiga amiga, Byddi, havia se tornado empregada da casa para ajudar a cuidar dela, e estava apaixonada por Pipi).

“Assim é que, no decorrer de nossas vidas, nossas maiores fraquezas e mesquinharias costumam ser motivadas pelas pessoas que mais desprezamos.”

Em Londres, com dinheiro de sobra, Pipi se torna um inútil. Não faz nada a não ser gastar demais e viver remoendo seu amor não correspondido por Estella. Também conhece Hebert, esse um bom amigo e de bom caráter, mas que muitas vezes é influenciado pela conduta displicente de Pipi. E assim a história vai, e Pipi se torna uma pessoa cada vez pior... ele corta todo seu relacionamento com Joe e Byddi, mesmo após a morte da irmã, e se deixa deslumbrar pela riqueza de que dispõe.

“Jamais se guie pelas aparências; sempre se funde em dados concretos. Não há melhor regra que essa.”

As coisas mudam quando Pipi enfim descobre quem é seu verdadeiro bem feitor e percebe que Estella vai se casar com uma das pessoas que ele mais despreza, apenas como vingança pelo sofrimento da Sra. Havisham. E então é que o autor demonstra sua genialidade. Na transformação e caráter que Pipi sofre. Não vou entrar em detalhes sobre a história, pois sendo um livro que eu acredito que todos deveriam ler, não quero contar demais.

Quanto a minha opinião sobre o livro, como disse acima, é mais uma dessas obras que me fazem apreciar a genialidade de um escritor. Claro que eu amo Cornweel, Martin, Zafón... eles são ótimos, mas há algo de especial em alguns escritores, especificamente em Victor Hugo, Tolstoi e Dickens, algo que os coloca em um patamar diferente, mais elevado, algo que os torna fonte de inspiração.

Então, acredito que é um livro para ser lido com toda certeza!!!

Gente, foi uma postagem longa, mesmo eu tendo feito apenas uma pincelada da história, e há tanto o que se falar da obra que não dá para por tudo aqui, portanto, leiam!!!

Agora, eu tinha decidido ler A rainha Branca, mas como acabou de chegar O Príncipe da Névoa e ele é bem curtinho, vou ler esse do Zafón antes... vai ser bem rapidinho pelo jeito!!!



Beijos,
Fefa Rodrigues